quarta-feira, 16 de dezembro de 2020
Tebas - O arquiteto Negro
terça-feira, 24 de novembro de 2020
Guerra do Paraguai e a capoeira
Na Guerra do Paraguai (1864-1870), o Império Brasileiro constituiu a Companhia de Zuavos da Bahia, pelotões formados por negros dentre os quais destacou-se Cândido da Fonseca Galvão (Dom Obá II), natural de Lençóis da Bahia e descendente de reis africanos. Esses foram decisivos na guerra por seu destemor e capacidade de combate, especialmente na Batalha de Tuiuti e na Retomada de Uruguaiana (RS). Eram quase todos capoeiras. Foram elogiados pelo Conde d’Eu (Gastão de Orleans) como a “mais linda tropa do Brasil”, pelo “capricho com suas indumentárias”. Receberam a promessa de liberdade e equiparação aos demais soldados ao final da guerra.
Foram traídos. A tropa foi desmobilizada e desarmada. Grande parte deles morreu à míngua. Dom Obá ainda obteve algum reconhecimento recebendo posto “honorário” de oficial. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde era amado pelos pretos, foi recebido por Dom Pedro II, teve ação destacada como abolicionista, mas era tratado pela “boa sociedade” (branca) como personagem caricato, “amalucado” e “extravagante”, um “excêntrico contador de histórias legendárias” de “nobres africanos” e “pretos heróis de guerra”, feitos risíveis e inverossímeis aos olhos da Corte. Na República, foi cassado seu título militar. Antes disso, ao final da guerra, vários Zuavos foram presos por prática de “capoeiragem”, considerados “vagabundos”, marginalizados. Só uma vez foram homenageados com o nome de uma rua em Salvador, ao lado do Fórum, mas depois aquele nome foi substituído pelo atual, Rua Tinguí.
Não encontrei nenhuma outra homenagem oficial à Companhia de Zuavos. Mas, ao policial Miguel Nunes Vidigal, sim, ainda que às avessas. Ele dá nome ao atual bairro do Vidigal, no Rio de Janeiro. Notabilizou-se por torturar e assassinar praticantes de candomblé e capoeira. Era um exímio capoeirista, porém, a mando do Império, sua função era exterminar os representantes da “arte-mãe”. Os mestres por ele capturados, antes de serem assassinados, sofriam longas sessões de tortura chamadas Ceia dos Camarões, nas quais açoitava e despejava óleo fervente sobre suas vítimas.
Miguel Nunes Vidigal, que dá nome ao atual bairro do Vidigal, no Rio de Janeiro, notabilizou-se por torturar e assassinar praticantes de candomblé e capoeira.
Já na República, a capoeira foi criminalizada a 11 de outubro de 1890 (Decreto 847) e assim permaneceu até 1937. Em 2014, foi reconhecida como Patrimônio da Humanidade pela Unesco, mas ainda prossegue submersa na falta de reconhecimento de sua ancestralidade para a cultura brasileira. Neste ínterim, viveram e morreram muitos lutadores, guerreiros e criadores, como Besouro, Pastinha e Bimba.
Os mestres prosseguidores dessa construção histórica, digna dos mais profundos estudos, têm agora melhores condições de trabalho no Exterior do que no Brasil. Mas o que tange mais fortemente a este artigo é a música. E a pergunta que não quer calar é: quando será reconhecido o valor basilar da capoeira para a construção da identidade musical brasileira? Isso apenas para citar esta parte, porque, sobre os Zuavos, que morreram pelo Brasil na Guerra do Paraguai, ou os negros, que morrem sob açoite para a construção da nação, já ultrapassa qualquer marco civilizatório possível.
Fonte:https://gauchazh.clicrbs.com.br/cultura-e-lazer/noticia/2019/12/por-que-a-capoeira-e-a-arte-mae-da-cultura-brasileira-e-da-identidade-nacional-ck4ea6v4n07a901rz9cl2fhmw.html
domingo, 1 de novembro de 2020
Lima Barreto
Há 98 anos morreu um dos grandes nomes da literatura brasileira. Seus últimos escritos registraram sua dura experiência de internamento em hospital psiquiátrico. Escrito em forma de diário, seu texto retrata com abundância de detalhes o cotidiano da instituição. A vida de Lima Barreto foi profundamente marcada pela pobreza e pelo racismo. O sofrimento daí decorrente foi tratado como transtorno mental, o que motivou seus internamentos psiquiátricos. Equívocos indefensáveis
quarta-feira, 12 de agosto de 2020
segunda-feira, 20 de julho de 2020
Árvore Genealógica da capoeira
domingo, 5 de julho de 2020
Maria Felipa - anônima guerreira
Em celebração às lutas de resistência ocorridas na Bahia, anualmente o 2 de Julho é celebrado com desfile cívico e intensa participação popular, quando se destaca a execução do hino que expressa em sua letra o fim da submissão baiana aos desmandos da coroa portuguesa.
Dentre os participantes da guerra de independência é comum mencionarmos as figuras masculinas como a do Corneteiro Lopes e Madeira de Melo, dentre outros. A participação das mulheres por muito tempo foi negligenciada. No entanto, novas pesquisas deram maior visibilidade à participação feminina nas lutas pela independência baiana. Dentre elas temos Maria Quitéria, Joana Angélica e Maria Felipa.
Em uma pesquisa realizada no Arquivo Público da Bahia pela professora e pesquisadora Jamile Palafoz , encontra-se o jornal O Estado da Bahia, de 1933, que traz na sua capa a seguinte chamada: “A glorificação da história pátria ao incomparável heroísmo da mulher baiana” . Observa-se que, apesar de fazer uma referência à participação das mulheres, o jornal não fala da participação de Maria Felipa. Conclui-se, portanto, que, por ser tratar de uma mulher negra, o periódico não hesitou em negligenciar sua participação e importância na luta de independência em terras “itaparicanas”.
É bem claro como a mulher branca é lembrada por esse jornal, a exemplo da figura de Joana Angélica, vista como um símbolo católico personificado e endeusado na figura feminina. O jornal lembra a imagem de Maria Quitéria, Joana Angélica e Ana Nery. Entretanto, a negra Maria Felipa em nenhum momento é citada pelo referido jornal. Ao contrário, faz referência à baiana Ana Nery, que teve participação na guerra do Paraguai, não tendo nenhuma relação com a Independência da Bahia e, mesmo assim, foi homenageada, ganhando destaque na capa do periódico. Ao tratar de Joana Angélica, o jornal faz a seguinte descrição da Abadessa:
“Era Joana Angélica o lírio da pureza a Santa Joana Angélica, abadessa da Lapa, bendita flor de inocência, símbolo imaculado da bondade, guarda impoluta da castidade de suas irmãzinhas, que, ao ver a casa de Deus ameaçada de invasão pelas hastes embriagada do General Madeira, expôs a sua carne frágil e palpitante de heroísmo, aos golpes furiosos e profanadores do Convento, deixando que as baionetas lhe atravessassem o peito. Aquele peito tão abençoado em que pulsava um coração que palpitava pelo amor de Deus e pelo amor da Pátria”.
A professora Eny Kleide¹°, no livro “Maria Felipa a Heroína da Independência da Bahia”, faz em seu primeiro capítulo um breve estudo sobre Maria Felipa de Oliveira e que permite compreender mais sobre a história social da heroína negra. O segundo capítulo relata a participação de Felipa no contexto da Independência da Bahia.
“Nasceu escrava, mas depois de liberta colocou a liberdade como maior tesouro de sua vida, moradora da Ilha de Itaparica, negra, alta, desde cedo aprendeu a trabalhar como marisqueira, pescadora, trabalhadora braçal que aprendeu na luta da capoeira a brincar e a se defender, que vestia saias rodadas, bata, torso e chinelas, líder de um grupo de mais de 40 mulheres e homens de classes e etnias diferentes, onde vigiava a praia dia e noite a fortificando-as com trincheiras para prevenir a chegada do exército inimigo, organizava o envio de alimentos para o interior da Bahia (recôncavo), atuando na luta pela libertação da dominação portuguesa. Lutou ao lado de mulheres, a exemplo de Joana Soaleira, Brígida do Vale e Marcolina, também anônimas desse processo histórico de luta e resistência”.11
Felipa não estava satisfeita com a função de retaguarda. Resolveu partir para o combate. Sabia que uma frota de 42 embarcações se preparava para atacar os lutadores na Capital baiana. Pensou um plano e juntou 40 companheiras para executá-lo.
Saíram “vestidas para matar”. Seduziram a maioria dos soldados e seus comandantes e levaram-nos para um lugar ermo. Quando eles, animados, ficaram sem roupa, elas aplicaram-lhes uma surra de cansanção (planta que dá uma terrível sensação de ardor e queimadura na pele); enquanto isso, um grupo incendiava as embarcações.
Esta ação foi decisiva para uma tranquila vitória sobre os portugueses em Salvador, permitindo que as tropas vindas do Recôncavo entrassem triunfalmente, sob os aplausos do povo, no dia 2 de julho de 1823. Maria Felipa continuou sua vida de marisqueira e capoeirista, admirada pelo povo de Itaparica. Faleceu no dia 4 de janeiro de 1873.12
Durante esses anos a trajetória dessas mulheres negras baianas, a exemplo de Felipa, ficou anônima sendo lembrada apenas nos conteúdos escolares por referências negativas, quando são citadas como baderneiras, arruaceiras e bandidas, criando assim uma identidade indissociável da mulher negra ao crime. Uma imposição racista histórica, que leva a figura feminina negra a ter suas características estéticas marginalizadas e riscadas da existência.
Maria Felipa timidamente vem sendo inserida nos desfiles oficiais do 7 de setembro, já que por muito tempo foi lembrada somente pelo Grito dos Excluídos, reconhecendo de que “muitas surras de cansanção” e queima de navios ainda serão necessárias para se lembrar das heroínas negras na proclamação do 2 de Julho.
REFERÊNCIAS:
* André Carvalho – Graduação de Licenciatura e Bacharelado em História, Coordenador do Memorial da Câmara Municipal de Salvador
2 - O Riacho do Ipiranga é o nome de um córrego localizado na cidade de São Paulo, no Brasil. Por muito tempo foi usado o nome rio por historiadores, devido ao quadro pintado por Pedro Américo que faz uma ilustração gloriosa para a declaração simbólica da Independência do Brasil pelo então príncipe e herdeiro do trono de Portugal, D. Pedro I, em 7 de setembro de 1822.
3 - Licenciada e bacharel em História pela Universidade Federal da Bahia.
4 - APEB – O Estado da Bahia, 01/02/1933.
5 - Para saber mais sobre a representação da imagem Ana Nery, ver: http://www.cms.ba.gov.br/memorial_acervo.aspx
6 - APEB – O Estado da Bahia, 01/02/1933.
7 - Currículo do professor Acessar: lattes - http://lattes.cnpq.br/0844644366204724
8 - Casarão que tinha esse nome porque abrigava os que só tinham de seu o sol e a lua. FARIAS, Eny Kleyde Vasconcelos – MARIA FILIPA DE OLIVEIRA – HEROÍNA DA INDEPENDÊNCIA DA BAHIA – Itaparica – Bahia, p 2010. P 124.
10 - Autora - Eny Kleyde Vasconcelos Farias é educadora, mestre em educação pela Universidade Federal da Bahia " UFBA. Estudou no Estado de Israel, é professora universitária, tendo ensinado Psicologia na UFBA e História da Educação na Faculdade de Educação da Bahia e no Centro de Estudos de Pós Graduação Olga Mettig. Trabalha com a prevenção da violência, com a cidadania e com patrimônios nas comunidades.
11 - FARIAS, Eny Kleyde Vasconcelos – MARIA FILIPA DE OLIVEIRA – HEROÍNA DA INDEPENDÊNCIA DA BAHIA – Itaparica – Bahia, p 2010. P 01 – 148.
12 - FARIAS, Eny Kleyde Vasconcelos – MARIA FILIPA DE OLIVEIRA – HEROÍNA DA INDEPENDÊNCIA DA BAHIA – Itaparica – Bahia, p 2010. P 138.
BIBLIOGRAFIA:
FARIAS, Eny Kleyde Vasconcelos. MARIA FILIPA DE OLIVEIRA – HEROÍNA DA INDEPENDÊNCIA DA BAHIA – Itaparica - Bahia/2010.
JORNAL O ESTADO DA BAHIA – 1º de Julho de 1933.
JUNIOR, Álvaro Pinto Dantas de Carvalho, Filho, Ubaldo Marques Porto. 2 DE JULHO INDEPENDÊNCIA DA BAHIA E DO BRASIL, Salvador - Bahia/2015.